segunda-feira, 25 de maio de 2009

O miúdo estava possuído por Deus!

Queridinhas: ainda não estou em mim. Estou com uma nervoseira que nem me tenho nas pernas (Estou naquela cadeirinha de balouço que vocês me cobiçam há anos. Porcas cobiçadeiras.). Na Sexta-feira, o meu… Ai… O nosso Valério levou-me à Capital. Disse-me para eu não me ficar num pulguedo, mas que iria por certo assistir, ao fenómeno mais espectacular de que teria memória. Benzi-me três vezes e disse-lhe: “Cruz Credo Valério que me queres dizer com isso? Fenómeno?” Ao que ele me respondeu que tivesse calma nos motores de arranque que logo, logo veria. E riu-se com aquele dente da frente podre que lhe dá aquele ar maroto que vocês tão bem conhecem. Não fosse ele padre, queridinhas e vocês iam-se a ver o tratamento que eu lhe dava. Benzia-o todo, nosso senhor. Ai mas que disparate isto não tem jeito, são pensamentos meus. Adiante queridinhas. Fiquei-me, muito intrigada e um pouco receosa, vocês sabem como me quedo para os medinhos, com aquele mistério do meu… Ai… do nosso Valério. Saímos do táxi apressados que o estúpido do taxista resolveu embirrar por eu me ter descalçado. Chamou-me porca, o estafermo. Se há coisa que não me deixa cheirar mal dos pés são as croques amarelinhas que vocês me deram e que eu nunca mais descalcei de tão cómodas. Portantos, para dar o benefício da dúvida cheguei o pé ao nariz do Valério e perguntei-lhe: Cheira-te? Ao que ele me disse: Cheira-me a rosas Maximina, a rosas! Vai daí proibi-o de dar gorjeta ao marafado do home que só me arreleiou com aquela boca do chulé. Ele mandou-me calçar o que fiz de má vontade que estava num daqueles dias que não podia com os joanetes.

Pedi ao Valério para parar num café para beber um chá de camomélia a ver se me parava a tremedeira e a azia por causa da orelha que tinha comido ao almoço. Parem com as insistências que esta receita levo comigo para a cova. E se é um regalo. Olaré! Ora, assento-me na única mesa vaga e que tinha uma estátua de um sujeitinho todo magro e com bigodinho. O Valério disse-me baixinho: Aí não Maximina. Aí não. Mas eu bem que fingi que não o ouvi que estava que não podia das varizes a latejarem-se-me todas nos presuntos. E ali ao ar livre é que era mesmo a oportunidade para me descalçar mais um becadito. Se bem pensei melhor o fiz e pimbas que me sentei ao lado do home estátua. Descalcei as croques e massajei os pés, ódepois como sou pessoa de muita higiénica saquei daquelas toilhitas (queridinhas 1,59€ apenas no pinguinho. Já vos disse que lá é que a gente faz as nossas comprinhas com tino.) e limpei-as muito bem límpidas (aprendi este termo e acho lindo) para beber o chá de camomélia. Nesta altura o meu…Ai… O nosso Valério estava assim pró afastado a fingir que não me conhecia, mas eu não me moí com isso que eu sei que aquilo é tudo máscaras que ele põe a fingir-se de importante. É aqui que me aparecem uns queridinhos muito divertidos com cães e a fazer malaberismos ou lá o que era. Aquelas coisas que se fazem nos circos com uns pilões grandes e quê. Chega a uma altura, aproximam-se de mim e esticam-me uma boina. O que é que eu pensei: Tu queres ver Maxi que estes miúdos descobriram que tu no fundo, no fundo és danada para a brincadeira? Olha abalei de entusiasmo pus a boina e dancei como as sevilhanas que ando a aprender com o… Ai porra… Dancei ao jeito dos pauliteiros de Miranda. Assim é que foi. Bati palminhas, dei-lhes umas festinhas e devolvi-lhes a boina que cheirava um becadito mal. Até estou ainda com umas coceiritas na mona. Perguntei-lhes se queriam vir comigo e com o Valério e eles atiraram-me com um pilão o que me pareceu simpático que aquilo dá jeito para pôr a arder na lareira. Despedi-me gritando “Xizinhos queridos! Xizinhos!” e lá segui com o Valério.

Entrámos num prédio muito e muito e muito lindo, toda eu era boca aberta a olhar para cima, a olhar para os lados, muito espantada da minha cabeça. O Valério mandou-me sentar e disse-me que nem pensasse em descalçar as sapatas o que na verdade na altura já não me apetecia. Comecei a ficar acagaçada e a apertar o meu tercinho nas mãos, rezando de mim para mim, uma precezinha que eu cá gosto muito. O que é que sucede? Entra-me por ali um maluquinho coitadinho a correr. Olhem, todo carequinha, cara de bebé, e as calcitas coitadito todas descaídas que não fossem as cuequitas e eu conseguiria ver-lhe o mealheiro. E salta-me para a frente. Filhas comecei a ficar logo aqui muito enervada. Saco do leque para arejar as rosetas e olho para o Valério que me pisca o olho. O moço desata-me numa fúria a falar com mais 7 vozes digo-vos eu. Para cima de dez vozes até quem sabe e eu muito aflita, pensei, ‘tadito está possuído e o Valério veio salvá-lo. Quem sabe beatificam o Valério daqui a um bom par de anos? Estava eu nestas reflexões quando o mocito coitadinho me começa a falar com a voz do Simão Sabrosa. Meninas, não me podia ficar. Saltei para a frente dele decidida eu mesma a expulsar do pobre rapaz esse traidor de meia tigela que me deixa o meu Sporting, para passar para o clube do Demo. Meto-lhe a mão na testa e grito indignada: “Ouve lá ó meu granda badameco, ou sais do miúdo ou arranco-te daí à estalada e acabas os teus dias no Freixieiro. Ouvistes traidor de um cabr…” É aqui que a sala antes numa histeria colectiva em que todos se riam muito, cai em si e vê o que lhes estava a acontecer. Estavam também eles, queridinhas, a ser possuídos pelo génio do mal. Que é que a Maxi fez? Deu cabo dos planos de Satã e acabou ali mesmo, só com meia dúzia de berros, com a brincadeira. O Valério que estava meio aparvalhado põe-se a pedir desculpa às pessoas, ainda estou para saber porquê se as salvei do Demo, amuou comigo e diz que não me leva mais a Lisboa. Não sei se salvei o miúdo, vocês vejam lá se ouvem alguma coisa na telefonia sobre isso, ou na televisão. A graça do menino era Luís Franco Bastos, coitadinho. Espero que alguém o ajude com aquele problema. É que se já não é fácil confiar nos homens, imaginem num destes possuído pelo próprio do chifrudo. Olha sabem o que vos digo, hoje todos se zangaram, amanhã ainda vou ser beatificada. Essa é que é essa. Estou aqui toda arreliada porque amanhã é dia de Sevilhanas…Ai…De danças tradicionais portuguesas e não tenho par. Olhem vou até ali chorar um cadichinho que estou por demais emocionada. Porra.

É verdade vocês sabiam que a Aurélia da Loja Chiqué vai comprar os artigos todos ali à Bagatela do Chiado a 1,80 a peça. Ah pois é, a porca, a cobrar-nos os olhos da cara por aquelas porcarias. Não digam que fui eu que vos disse que lhe prometi segredo, e jurei com beijinhos a cruzar os dedos e tudo. Xizinhos queridas. Desculpem lá o desabafo.

4 comentários:

  1. Ai mulher,
    Que o Senhor não te concedeu o poder de Síntese!

    (eh eh eh...Muito bom)

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  2. No dia em que maximina for sintética será o dia em que lhe deu o badagaio e ela dirá simplesmente: "porra que vou bater a bota." xizinhos querida pomba.

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  3. que pena eu não ter ido com a maximina :)
    ainda dava mais divertimento à peça

    beijinhos

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