quarta-feira, 24 de junho de 2009

Hoje



É o dia da Santinha!
beijinhos

terça-feira, 23 de junho de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Santos Populares

Pomba abriu o guarda-jóias, e vasculhou por entre o emaranhado de pechisbeques, os brincos de mola e colar de pérolas, herança da sua mãezinha. Ajeitou o casaco preto de caxemira, e num trejeito diário, passou as mãos pela saia verde tropa, moldando-a ao corpo.
Cedeu-se a mais um relance ao espelho, antes da última inspecção à malinha de mão.
Chaves, confere.
Porta moedas, confere.
Telemóvel, confere.
Lenços de papel, confere.
Kompensan, confere.
Viu as horas no relógio de pulso, e pensou que tinha de se apressar. As comadres já por lá deviam andar, e as sardinhas, pelo aroma que se sentia no ar, já estavam a assar.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

QUERIDINHO VALÉRIO:

Bem sei que partistes com o teu grande amor, a Santinha. Eu às vezes dava por mim a pensar... Ele hoje não me está a rezar como deve de ser, a reza não flui ou que é, e perguntava-te alembras-te? "Que é que tens filho?" e tu olhavas para mim e sorrias-te todo, com o teu dentinho podre e dizias, agarra nas bolinhas e reza. E eu lá rodopiava o tercinho nos dedos e continuava-me a amar-te cegamente...Ai... A rezar com fervor. Ora, como eu de ti só queria as orações, que para aturar homes já me tinha chegado e bem, meu paizinho que Deus o tenha, mas que mal vi no que é aquilo de viver com um home dava (coitada da mãezinha sempre encornada, sempre encornada e sempre a fazer-te as comidinhas, como gostavas, paizinho) me tinha metido na mona "Contigo não Maxi. Contigo não. Há-des viver livre como uma codorniz" E assim o fizeo. Vivo até hoje sozinha mas sou alegre. E além disso uma pessoa pode viver sozinha sem ter de abdicar da religião não é verdade? E assim surgistes tu, queridinho, já no Outono da minha vida e viestes dar vida ao que antes era de plástico e a pilhas. Ai... Viestes materializar a minha fé. Assim é que foi. Ora, não estava nada à espera que esta felicidade viesse ser lixada desta maneira ambruta (ouvi isto no outro dia e tu sabes que eu gosto de aprender palavritas novas. Que eu cá só sou velha no cartão do cidadão. Já o tenho! E fiquei muito bonita dentro do que me é possível. Mas já não to cheguei a mostrar. Está tão lindo o meu cartão do cidadão Valério. Com quem é que eu partilho estas coisinhas giras todas queridinho? Dirias: "Com as outras comadres." e eu respondia-te, se pudesse, meu cabr... "Elas já sabem a minha vida toda! As coisas ainda não acontecerem e eu já lhas contei. É um problema que eu tenho com esta língua de trapos, tu sabes...) Ora acertei quando te senti distraído e pouco empenhado nas rezas, mas nada me fazia prever que a razão da tua distracção era a Santinha. Eu sei, eu sei, ela é tão bonita e pura e tu fizestes o que o teu coração mandou. Não te guardo rancor... Caralh... Fodas... Porra... Não! Juro-te que não. Que me dê aqui já uma caimbra se te guardo rancor meu granda cabr... Ai porra que me está a dar uma caimbra. O meu problema agora é as recordações percebestes? Isso é que é. Vêm aí os Santos Populares e alembro-me de quando me destes o manjerico e meti logo lá o nariz, como gosto de fazer com quase tudo e o manjerico coitadito morreu logo no dia a seguir. Alembro-me que no outro dia me trouxestes outro e eu fiz a mesma coisa e alembro-me da quadra e tudo, mas agora não tenho tempo de a pôr aqui que ando cá a ver se me oriento de outra maneira. Em último caso, volto ao plástico... Ai... Às orações no recolhimento do lar. É difícil arranjar alguém que me dê com a fé entendes? Olha Valério, nunca me vou esquecer deste lindo caminho que percorremos juntos e espero que em breve te atinja aquela coisa da disfórmia erecta ou que é, que é para te reformares que eu sei que te sentes já, por demais, cansadito. Um grande xizinho querido e quando puderes reza uma a pensar em mim. Agradecida.

Da antes sempre tua devota, mas agora já não tanto porque me lixastes a vida sex... Ai... Religiosa, Maximina.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ele há períodos na vida, em que tudo se assemelha a um enorme buraco negro

Foram os problemas com as finanças, o negócio que não voltava a descolar, o sentimento de angústia e depressão, e depois a grande bomba. A dor imensa. A partida da Santinha.
Maria da Pomba não podia deixar de se sentir feliz pela sua amiga. Estava com o homem que sempre a amou, ainda que em segredo, e esperava o filho há muito desejado.
As restantes comadres tinham ficado espantadas, duvidavam da veracidade das informações, mas ela sabia que era verdade.
Aquele amor da Santinha tinha começado fazia muito, era ela ainda muito moça. Com a vinda para Lisboa, e com a continuação da necessária farsa, veio também a obrigatoriedade de se fazer de mais velha. Muito mais velha. Foi por isso que, inicialmente se juntou àquele divertido grupo de velhas. Pelas tricas do bairro, e para lhes copiar os trajeitos e as posturas. E não fora o extremo poder de observação de Maria da Pomba, e a sua capacidade de ler nas estrelas que ali havia coisa, e a trama jamais teria sido desvendada. Mas Maria da Pomba era mulher honesta e antes de tudo o mais confrontou a recém amiga, que lavada em lágrimas, lhe confidenciou o amor proibido, e as razões macabras que os haviam trazido até ao centro de Alfama. Maria da Pomba desfez-se por dentro com a história interdita da pobre moça, e fez promessa militar que a havia de ajudar. Jurou-lhe segredo, e assim o manteve. Bordou-lhe quase todo o enxoval com motivos de namorados religiosos, prendas que Santinha guardava com extrema cautela no fundo duma velha e pesada arca onde repousava a televisão do quarto.
Por vezes queria apresentar Santinha a uma vida diferente. Ponderara até juntá-la ao Cotovia. Tinha-lhes lido o mapa de compatibilidades, e aquilo era uma união feita nas estrelas. Mas o destino fintou-lhe as ambições.
Era um período triste. De difícil suportar.
Mas agora nada ... nada, mas mesmo nada, a tinham preparado para aquele momento.
Na manhã depois duma estranha tarde passada com a Linda, em que esta lhe insistira tocar todo o seu imenso repertório, com direito a encore com 4 ou 5 êxitos, e uma overdose de pistáchios salgados para melhor aguentar a coisa, aparecera-lhe umas manchas vermelhas pela cara e pelo pescoço. Convencera-se que tinham sido os pistachos em dose maciça, e que o Correia do Posto Médico logo lhe havia de dar indicação duma pomada.
Foi por isso com consternação que ouviu a palavra “varicela”.
Agora encontra-se de cama, em estado febril, onde alucina com o regresso da Santinha a cantar os êxitos da Linda, enquanto a Maximina grita pelo Valério e a Maria de Lurdes procura esconder atrás das costas uma imensa caixa de embrulho. Estranhamente Vanderlei, é a única comadre que se mantém na sua condição normal, a recortar fotos do Filipe de Espanha para o álbum de família.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Linda de Suzi:

Preciso que me ensines a colocar a voz. O cego anda-me a fugir. E é da voz que eu mau hálito não tenho. O Valério nunca se queixou e vocês sabem como ele era sincero. É que ando a precisar das minhas orações. Xizinho.